sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Igreja da Misericórdia – João Pessoa/Centro

Vista da Rua Peregrino de Carvalho - Antigo Beco da Misericórdia

Inscrita no livro de Belas Artes do IPHAN desde 25 de abril de 1938, nº 041, foi o primeiro monumento tombado na Capital. Situado na Avenida Duque de Caxias, o prédio passou por uma restauração promovida pela Oficina-Escola de João Pessoa em parceria com a cooperativa Bilateral Brasil/ Espanha e o Projeto de revitalização do Centro Histórico de João Pessoa.
Um exemplar típico do estilo chão ( ou jesuítico) é por muitos intitulado como pertencente ao estilo Maneirista ( intermediário entre o Renascimento e o Barroco). Inicialmente compunha um conjunto arquitetônico que abrigava a Santa Casa de Misericórdia do Estado da Paraíba, o templo e o cemitério, restando nos dias atuais apenas o templo e parte da Santa Casa, tal qual a roda dos enjeitados hoje fechada, mas ainda podemos perceber onde a mesma funcionava.

Nave. Á esquerda o Morgado do São Salvador do Mundo

 Sua fundação deu-se por recursos próprios do Senhor Duarte Gomes da Silveira, ainda nos primeiros anos de Capitania e ao que se sabe foi o segundo templo construído no Estado, erguido por volta dos anos de 1639 e 1640, com a construção do Morgado do São Salvador do Mundo.
De sua estrutura original restaram apenas o Tabernáculo, o Arco-cruzeiro e o emblema da coroa Portuguesa acima do Morgado do São Salvador do Mundo. A fachada disposta de um formato simples abriga uma entrada e duas janelas frontais, além de um óculo coroando o frontão. Foi remodelada por das vezes sem datas documentadas de suas obras. O vestíbulo é ladeado por duas colunas feitas em um único bloco de pedra calcária sem emenda, em estilo Toscano, com o fuste simples e robusto. A nave possui um caixote já descrito em documentos como  Descrição Geral da Capitania da Paraíba de Elias Herckmans:

Segue-se a igreja da Misericórdia. Está quase acabada; os Portugueses servem-se dela em lugar da matriz. O seu fundador foi Duarte Gomes da Silveira, senhor de Engenho, que a construiu à sua custa, assim como tem promovido a edificação desta cidade, auxiliando com dinheiro a muitos moradores que desejam construir casas.


Formato simples, estilo chão ( também chamado por muitos de Maneirista, como intemédio da Renascença para o Barroco.)

Morgado do São Salvador do Mundo, onde repousam os restos mortais de Duarte Gomes da Silveira e sua esposa. 

púlpito

Nave


Forro com a Imagem de Nsa. Senhora da Misericórdia


Brasão da Coroa


   

  Ao que se sabe, muitos templos também perderam suas documentações durante o período de invasão Holandesa na Paraíba. Isso porque muitas pessoas enterraram os documentos no chão de seus imóveis para que os batavos não pudessem destruí-los. Com essa atitude documentos inteiros se perderam, pois sofrerão a dura ação do tempo, da umidade do solo e fatores diversos.
Ao resgatarem seus documentos enterrados, muitos depararam-se com pedaços e retalhos de documentos, perdidos para sempre.
Diferente de outros templo que iniciaram-se em taipa, a Igreja da Misericórdia iniciou-se já em pedra, e em seu interior abriga atualmente a Capela de São Salvador do Mundo, onde repousam os restos mortais de seu fundador e sua esposa a esquerda, A Capela de Nossa Senhora das Dores à direita com uma imagem de Nossa Senhora das Dores e Jesus morto em tamanho natural datada de 1960, além do ossuário/ossário.  
Detalhe do Brasão da Coroa

Imagem de Nossa Senhora das Dores


O templo também foi palco de acontecimentos memoráveis a exemplo da Procissão do Santo Ofício durante a visitação da mesma no ano de 1595, com a presença d e autoridades administrativas e clérigos a exemplo do Padre João Vaz Salem que posteriormente teve seus ostentosos  bens confiscados pela própria Igreja.
Durante os reparos e restauração executados pela Oficina-Escola de João Pessoa alguns detalhes encobertos na estrutura do templo foram apresentados como a clarabóia do Morgado de São Salvador do Mundo, fechada posteriormente durante a restauração por caixilho com vidro, e destinada a permitir a entrada da luz. A mesma estava tampada e só foi recuperado durante a restauração. Assim como a clarabóia uma porta de acesso a um jardim lateral ao templo também foi descoberto, estando esta abertura também lacrada por uma parede aplicada ali posteriormente a conclusão do templo, provavelmente durante reformas internas.
Ainda na nave podemos apreciar o púlpito. Em proporções singelas, não muito pomposas como a do púlpito do Convento de Santo Antonio, abriga uma pomba em pedra situada acima do orador, provavelmente fazendo uma menção de que  aquele que profetiza a Palavra de Deus está sob a proteção do Espírito Santo.
Base de pedra para suporte de crucifixo

O altar-mor, também abriga seus encantos. Feito em uma estrutura de madeira e com uma passagem em sua lateral esquerda, é possível que em tenha sido erguido inicialmente um pouco mais “afastado  para trás”, no tempo em que ainda era em pedra. Ao centro do altar, um espaço encravado no chão (atualmente protegido por uma placa de vidro) abriga uma espécie de pedestal em formato de losango com um encaixe ao centro na largura de um caibro de madeira utilizado em construção de casas. Provavelmente esse pedestal possuía o intuito de suporte para cruz pertencente a ritos de procissões.

sacristia 

 O forro, ornado com uma pintura em forma de medalhão, representa a imagem de Nossa Senhora ladeada por anjos que erguem seu belo manto azul, assim como aos seus pés estão dispostos o clero e a Coroa, com uma união característica daquela época.  O arco-cruzeiro curiosamente formado é estruturado na junção de blocos perfeitos de pedra calcária encaixados, todas no mais perfeito trabalho de cantaria.
Como na maioria dos patrimônios pesquisados para esse acervo, a Igreja passou por um período de abandono mesmo após o seu tombamento até ser recuperada e entregue a população, após obras de recuperação do teto e forro com o brasão pintado representando Nossa Senhora e a união entre o clero e a Coroa, além do piso totalmente refeito para imitar o mais próximo possível o piso original da igreja. Durante a restauração também foi possível identificar várias camadas de tintas nas paredes do templo (cerca de sete), até chegar à pintura original. Cada camada referente a um período distinto.
Como era costume as pessoas enterravam seus entes querido, pessoas ligadas à igreja ou a vida religiosa dentro do território da igreja.


Foram assim com capitães-mores, padres, irmãos leigos, dentre outros. Também durante a restauração e reposição do piso, em uma escavação arqueológica descobriu-se um túmulo pertencente ao um Capitão-Mor João Vianna, falecido em 26 de abril de 1808 e que ali foi sepultado. Atualmente o túmulo está em exposição permanente na Igreja, protegido por duas placas de vidro, preservando assim um costume religioso antigo de nosso povo.
É importante frisar que o templo não está livre da necessidade de novos reparos a exemplo das grandes rachaduras que podem ser encontradas no andar de cima do templo, onde pode-se encontrar alguns relatórios pertencentes a Igreja e ao tempo da Santa Casa. O que hoje é uma rachadura mais tarde pode ser convertido em um templo que vem a ruir ao solo.


Imagens do andar superior


Apesar de parecer pequena, sabemos agora que a Igreja da Misericórdia - antes Santa Casa da Misericórdia -  possui proporções parecidas com as de outros templos da Capital Paraibana e nos dias de hoje está ladeada por bancos e lojas de produtos diversos. Situada bem no Centro comercial de João Pessoa, pode ser encontrada sempre de portas abertas fazendo-nos um convite a uma reflexão, um papo com Deus e um momento de apreciação do passado bem aos nossos olhos. Nos dias de hoje, possui vínculos com a administração do Hospital Santa Isabel, e diariamente funciona com missas para todos que desejarem dela participar.

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