Vista da Rua Peregrino de Carvalho - Antigo Beco da Misericórdia
Inscrita
no livro de Belas Artes do IPHAN desde 25 de abril de 1938, nº 041, foi o
primeiro monumento tombado na Capital. Situado na Avenida Duque de Caxias, o
prédio passou por uma restauração promovida pela Oficina-Escola de João Pessoa em
parceria com a cooperativa Bilateral Brasil/ Espanha e o Projeto de
revitalização do Centro Histórico de João Pessoa.
Um
exemplar típico do estilo chão ( ou jesuítico) é por muitos intitulado como
pertencente ao estilo Maneirista ( intermediário entre o Renascimento e o
Barroco). Inicialmente compunha um conjunto arquitetônico que abrigava a Santa
Casa de Misericórdia do Estado da Paraíba, o templo e o cemitério, restando nos
dias atuais apenas o templo e parte da Santa Casa, tal qual a roda dos
enjeitados hoje fechada, mas ainda podemos perceber onde a mesma funcionava.
Nave. Á esquerda o Morgado do São Salvador do Mundo
Sua fundação deu-se por recursos próprios do
Senhor Duarte Gomes da Silveira, ainda nos primeiros anos de Capitania e ao que
se sabe foi o segundo templo construído no Estado, erguido por volta dos anos
de 1639 e 1640, com a construção do Morgado do São Salvador do Mundo.
De sua
estrutura original restaram apenas o Tabernáculo, o Arco-cruzeiro e o emblema
da coroa Portuguesa acima do Morgado do São Salvador do Mundo. A fachada
disposta de um formato simples abriga uma entrada e duas janelas frontais, além
de um óculo coroando o frontão. Foi remodelada por das vezes sem datas
documentadas de suas obras. O vestíbulo é ladeado por duas colunas feitas em um
único bloco de pedra calcária sem emenda, em estilo Toscano, com o fuste
simples e robusto. A nave possui um caixote já descrito em documentos como Descrição Geral da Capitania da Paraíba de
Elias Herckmans:
Segue-se a igreja da Misericórdia. Está quase acabada; os Portugueses servem-se dela em lugar da matriz. O seu fundador foi Duarte Gomes da Silveira, senhor de Engenho, que a construiu à sua custa, assim como tem promovido a edificação desta cidade, auxiliando com dinheiro a muitos moradores que desejam construir casas.
Formato simples, estilo chão ( também chamado por muitos de Maneirista, como intemédio da Renascença para o Barroco.)
Morgado do São Salvador do Mundo, onde repousam os restos mortais de Duarte Gomes da Silveira e sua esposa.
púlpito
Nave
Forro com a Imagem de Nsa. Senhora da Misericórdia
Brasão da Coroa
Ao que se sabe, muitos templos também perderam
suas documentações durante o período de invasão Holandesa na Paraíba. Isso
porque muitas pessoas enterraram os documentos no chão de seus imóveis para que
os batavos não pudessem destruí-los. Com essa atitude documentos inteiros se
perderam, pois sofrerão a dura ação do tempo, da umidade do solo e fatores
diversos.
Ao
resgatarem seus documentos enterrados, muitos depararam-se com pedaços e
retalhos de documentos, perdidos para sempre.
Diferente
de outros templo que iniciaram-se em taipa, a Igreja da Misericórdia iniciou-se
já em pedra, e em seu interior abriga atualmente a Capela de São Salvador do Mundo,
onde repousam os restos mortais de seu fundador e sua esposa a esquerda, A
Capela de Nossa Senhora das Dores à direita com uma imagem de Nossa Senhora das
Dores e Jesus morto em tamanho natural datada de 1960, além do
ossuário/ossário.
Detalhe do Brasão da Coroa
Imagem de Nossa Senhora das Dores
O
templo também foi palco de acontecimentos memoráveis a exemplo da Procissão do
Santo Ofício durante a visitação da mesma no ano de 1595, com a presença d e
autoridades administrativas e clérigos a exemplo do Padre João Vaz Salem que posteriormente teve seus
ostentosos bens confiscados pela própria
Igreja.
Durante
os reparos e restauração executados pela Oficina-Escola de João Pessoa alguns
detalhes encobertos na estrutura do templo foram apresentados como a clarabóia
do Morgado de São Salvador do Mundo, fechada posteriormente durante a
restauração por caixilho com vidro, e destinada a permitir a entrada da luz. A
mesma estava tampada e só foi recuperado durante a restauração. Assim como a
clarabóia uma porta de acesso a um jardim lateral ao templo também foi
descoberto, estando esta abertura também lacrada por uma parede aplicada ali
posteriormente a conclusão do templo, provavelmente durante reformas internas.
Ainda
na nave podemos apreciar o púlpito. Em proporções singelas, não muito pomposas
como a do púlpito do Convento de Santo Antonio, abriga uma pomba em pedra
situada acima do orador, provavelmente fazendo uma menção de que aquele que profetiza a Palavra de Deus está
sob a proteção do Espírito Santo.
Base de pedra para suporte de crucifixo
O
altar-mor, também abriga seus encantos. Feito em uma estrutura de madeira e com
uma passagem em sua lateral esquerda, é possível que em tenha sido erguido
inicialmente um pouco mais “afastado
para trás”, no tempo em que ainda era em pedra. Ao centro do altar, um
espaço encravado no chão (atualmente protegido por uma placa de vidro) abriga
uma espécie de pedestal em formato de losango com um encaixe ao centro na
largura de um caibro de madeira utilizado em construção de casas. Provavelmente
esse pedestal possuía o intuito de suporte para cruz pertencente a ritos de
procissões.
sacristia
O forro, ornado com uma pintura em forma de
medalhão, representa a imagem de Nossa Senhora ladeada por anjos que erguem seu
belo manto azul, assim como aos seus pés estão dispostos o clero e a Coroa, com
uma união característica daquela época. O
arco-cruzeiro curiosamente formado é estruturado na junção de blocos perfeitos
de pedra calcária encaixados, todas no mais perfeito trabalho de cantaria.
Como
na maioria dos patrimônios pesquisados para esse acervo, a Igreja passou por um
período de abandono mesmo após o seu tombamento até ser recuperada e entregue a
população, após obras de recuperação do teto e forro com o brasão pintado representando
Nossa Senhora e a união entre o clero e a Coroa, além do piso totalmente
refeito para imitar o mais próximo possível o piso original da igreja. Durante
a restauração também foi possível identificar várias camadas de tintas nas
paredes do templo (cerca de sete), até chegar à pintura original. Cada camada
referente a um período distinto.
Como
era costume as pessoas enterravam seus entes querido, pessoas ligadas à igreja
ou a vida religiosa dentro do território da igreja.
Foram
assim com capitães-mores, padres, irmãos leigos, dentre outros. Também durante
a restauração e reposição do piso, em uma escavação arqueológica descobriu-se
um túmulo pertencente ao um Capitão-Mor João Vianna, falecido em 26 de abril de
1808 e que ali foi sepultado. Atualmente o túmulo está em exposição permanente
na Igreja, protegido por duas placas de vidro, preservando assim um costume
religioso antigo de nosso povo.
É
importante frisar que o templo não está livre da necessidade de novos reparos a
exemplo das grandes rachaduras que podem ser encontradas no andar de cima do
templo, onde pode-se encontrar alguns relatórios pertencentes a Igreja e ao
tempo da Santa Casa. O que hoje é uma rachadura mais tarde pode ser convertido
em um templo que vem a ruir ao solo.
Imagens do andar superior
Apesar
de parecer pequena, sabemos agora que a Igreja da Misericórdia - antes Santa
Casa da Misericórdia - possui proporções parecidas com as de outros templos da
Capital Paraibana e nos dias de hoje está ladeada por bancos e lojas de
produtos diversos. Situada bem no Centro comercial de João Pessoa, pode ser
encontrada sempre de portas abertas fazendo-nos um convite a uma reflexão, um
papo com Deus e um momento de apreciação do passado bem aos nossos olhos. Nos
dias de hoje, possui vínculos com a administração do Hospital Santa Isabel, e
diariamente funciona com missas para todos que desejarem dela participar.