domingo, 27 de abril de 2014

Complexo Carmelita - Igreja do Carmo e de Santa Tereza - João Pessoa/Paraíba



Situado na Praça Dom Adauto, no Centro de João Pessoa/Paraíba. O Complexo Carmelita da Paraíba só foi iniciado em 1591, compreendendo no convento carmelita da capital e com a Igreja da Guia em Lucena, subordinada a Ordem do Carmo.
Feitos em Pedra Calcária paraibana, atualmente apenas as duas igrejas preservam o formato e traços da arquitetura original Barroco/Rococó (pois por motivos estéticos vigentes no século XIX, o atual prédio da arquidiocese vê-se transformado em um monumento clássico, perdendo a beleza e formato colonial de  origem, um mal irremediável para um patrimônio Histórico).
Na capital paraibana a Ordem Carmelita ficou responsável por fundar a igreja de Santa Tereza da Ordem Terceira, O convento e a Igreja da Ordem Primeira.
Sua fachada voltada ao Oeste abriga um prédio ornado em estilo Rococó. O frontispício em pedra calcária do século XVIII. Acimado por um medalhão da Ordem em pedra calcária, característica própria da Ordem como forma de “demarcar território religioso.”
porta falsa em pedra


A fachada abriga também uma janela circular com armação em forma de sol podendo este representar o próprio Cristo como formato de luz e direção ao mundo. O sol no que se diz a posição geográfica do templo também pode ser um sinal cardeal. O mesmo formato de sol da janela visto do lado de fora também pode ser visto do lado de dentro do templo.
As portas de madeira da fachada são ladeadas por duas falsa portas esculpidas em pedra calcária e possuindo apenas fins decorativos estéticos.
nave/ arco cruzeiro/altares laterais e altar-mor ao centro


A nave ampla e imponente abriga paredes ornadas em azulejos portugueses que contam a história de Nossa Senhora do Carmo. Um vestíbulo coroa a entrada, com pinturas representando a Santíssima Trindade, em tons pasteis, com influência Rococó. A frente do altar-mor em divisão com a nave encontra-se o Brasão da Ordem terceira acima do arco-cruzeiro feito em cantaria.

altar-mor

Os púlpitos laterais, destinado às homilias recebeu tons creme, marrom e dourado, remontando a coloração rococó. A frente do altar-mor, quatro altares laterais em forma de retábulos.
pintura no vestíbulo


pia de água benta em forma de concha - típico Rococó - Pedra calcária

altar lateral - direita
O altar-mor é trabalhado com traços Rococó com um conjunto de seis degraus e mais já no altar, há um conjunto de 6 degraus,sendo o mesmo altar ladeado por 18 bancos de madeira para o uso eclesiástico. Curiosamente, acima dois dos quatros altares laterais na nave, pode-se perceber alguns símbolos que se passaram desapercebidos durante os séculos. Na verdade a imagem sutil está representada por um triangulo invertido onde ao centro é possível perceber o relevo que forma a imagem de um olho, semelhante ao símbolo maçônico. Porém, nada de estranhezas, sendo algo possível sim, visto que a fraternidade esteve (e está) por séculos inserida nas construções arquitetônicas mais imponentes ao longo dos anos ao redor do mundo, tais como os "compagnonnage" - companheiros, hábeis construtores. 
O triângulo invertido remete-se ao feminino, à mulher, ou no caso do templo, a Virgem Maria, figura feminina máxima de veneração. Acima de um dos altares laterais, uma espécie de afresco faz alusão ao Êxtase de Santa Tereza de Bernini. Uma pintura curiosamente parecida com as formas representadas na escultura do Italiano. 
O altar é ladeado pelas imagens de Santo Elias e Santo Eliseu estando ao centro à imagem de Nossa Senhora do Carmo. 
É interessante ressaltar que este templo recebeu também visitas ilustres como a de D. Pedro II e sua comitiva Real em passagem pela Capitania da Paraíba.


IGREJA DE SANTA TERESA  -  IGREJA ANEXA AO TEMPLO DO CARMO

 
Alta-mor


Altar-mor - detalhes

detalhe da cúpula do altar-mor

púlpito 

altar lateral - retábulo



Com a planta recuada em relação ao templo principal é feito em pedra calcária assim como o templo principal. Este templo, porém não este ligado às paredes do templo ad ordem terceira, estando este ligado apena por um “beco” onde se podem encontrar jazigos perpétuos em sua extensão, além de objetos diversos, quase como uma dispensa.

coro / óculo e parte da pintura do forro
O recuo da planta em relação ao templo da ordem primeira de forma proposital deixa a subentender que diante da hierarquia vigente a Ordem Primeira possuía mais prestígio e vez mediante a Ordem dos leigos. O templo servia como casa de orações dos irmãos leigos.
O púlpito em suave decoração é formado por um caixote com talha, não muito alto.
Construído com a presença de talhas em madeira policromada no altar-mor e laterais assim como a capela-mor. O teto da nave abriga um forro pintado com a vida religiosa de Santa Teresa D’Ávila.
nave e altar-mor ao fundo






























 O seu valor artístico sobrepõe ao do templo principal. Seu arco-cruzeiro em pedra coroa a frente de um belo altar-mor com detalhes no teto, além de um pendulo em forma de pinha, fazendo uma alusão ao Barroco Tropical.



O CLAUSTRO DO CONVENTO

Área reservada para a ventilação e entrada de luz nos conventos, os claustros também eram áreas de circulação, reflexão e orações. O claustro do complexo Carmelita assemelha-se a alguns outros existentes pela região Nordeste a exemplo de Olinda. Do claustro também observamos
a preocupação dos carmelitas com a arquitetura do templo. Se do lado de fora ainda no frontão podemos perceber duas portas falsas em pedra, na lateral do templo encontramos uma arcada, composta por um série de portais em pedra calcária ao estilo simétrico em arco-pleno que adornam o ambiente entre o templo, corredor e claustro segue em formato de arco até o final do prédio. Mesmo com a ausência dos portais, pois ao fim do corredor atualmente há a secretaria paroquial, as janelas bem pequenas ficaram coroadas com mais quatro arcos plenos esculpidos na parede, seguindo a simetria de sua ornamentação. A preocupação simétrica também pode ser encontrada na posição das janelas acima, estando cada uma colocada na distancia de um arco de uma para outra. Esta colocação apresenta ao olhar mais leigo um equilíbrio e uma preocupação estética bem definida, apesar da característica assimétrica do Barroco-Rococó ( estilos artísticos com os quais a maior parte das edificações do período colonial na Paraíba foram erguidas).


claustro

os belos arcos dão acesso ao claustro

prédio da arquidiocese - Palácio do Bispo


A imagem ao centro foi substituída por outra em  barro cozido, devido o desgaste da imagem da fotografia. Foto de agosto de 2009. 



Do corredor podemos conferir uma das escadarias que davam acesso ao púlpito com o qual se comentava a homilia na hora da missa. A escadaria do qual era composta seguia ao mesmo material do templo, sendo de pedra calcária. No momento da missa, abria-se a “portinhola” que a trancava e se fazia o comentário do evangelho do dia.


Como era costume da época, muitos sepultavam seus restos mortais e até o próprio corpo no território santo da Igreja e mosteiros como forma de purificação da alma do defunto. Por isso não é difícil encontrar lápides das mais simples às mais bem elaboradas, pertencentes a pessoas de influência em sua época como políticos, Barões, Senhores de Engenhos e familiares em jazigos perpétuos, como o caso do Senhor Duarte Gomes da Silveira e sua esposa Dona Fulgência Tavares no Morgado do São Salvador do Mundo (de sua propriedade) na Igreja da Misericórdia com o qual também conferiremos neste material. Nas paredes da Igreja do Carmo não seria diferente. No caminho para o claustro encontra-se algumas lápides curiosas a exemplo do Mausoléu do então Senhor Silvino Elvídio Carneiro da Cunha: O Barão do Abiahy. Com as letras um tanto apagadas, lê-se de início: “Mausoleu da Família Abiahy onde Repouzam os Restos Mortaes do Seo Chefe Barão do Abiahy Silivo Elvidio Carneiro da Cunha (...)”

Mausoléu do Barão do Abiahy


Acima da referência uma escultura em forma de livro – provavelmente uma bíblia carrega em cima a expressão latina Hodie Mihi, Cras Tibi que em grossa tradução pode ser entendida como “hoje a mim, amanhã a ti” ou “eu sou você amanhã”. Tal frase é comum na formação de epitáfios. 



crédito de fotos: Lais Lima Sobreira